Primeiros socorros
Veja
as dicas de um médico motociclista sobre o que fazer e não fazer em acidentes
motociclísticos
Texto:
Equipe Trips & Tips e Nenad Djordjevic
Fotos:
Arquivo Trips & Tips
Convidamos
para essa edição um médico motociclista, para nos orientar profissionalmente em
como agir de maneira apropriada quando nos deparamos com um acidente
motociclístico. Nessa instância será abordada a forma de procedimento caso não
esteja envolvido, mas em condições de oferecer algum tipo de ajuda.
Nosso
convidado, Dr. Renato Chanquini, é ortopedista renomado, além de viajante
convicto, tendo percorrido grandes distâncias em viagens nacionais e
internacionais com diferentes motos. Vejam o que nos diz:
Quem
anda de moto sabe que o risco de se machucar em um acidente é
significativamente maior com esse veículo, independente de envolver, ou não,
outro tipo. Dependendo do local onde ocorra, a gravidade das lesões pode ser
maior ou menor, variando desde apenas ralados em tombos ou colisões a baixa
velocidade, à fraturas, amputações e até mesmo morte nos casos graves.
Mantenha
a calma
Em
primeiro lugar, devemos tentar manter a calma. Essa deve ser sua primeira
atitude, lembrando que cada pessoa reage de maneira diferente e que é muito
difícil manter se calmo diante destas situações. O susto, as perdas materiais,
a raiva pelo ocorrido, vítimas em pânico, etc. – tudo colabora para que surjam
reações intempestivas, mal pensadas, que normalmente só irão agravar uma
situação que já não está nada bem.
Antes
de agir, recobre a lucidez e reorganize os pensamentos. Pare, pense, respire
fundo algumas vezes e tente avaliar a gravidade geral do acidente.
Se
alguém já estiver ajudando, veja se entre as pessoas pode identificar um
médico, bombeiro, policial, ou qualquer profissional que esteja acostumado a
lidar com situações deste tipo. Se não houver alguém mais capacitado, talvez
caiba a você assumir o controle da situação. Mesmo que não esteja preparado
para tal, com calma é possível assumir uma postura ativa, controlando a
situação, dentro do que julgar ser capaz de realizar. Nunca tome decisões para
as quais não se julga capacitado. Em contra-partida, se o fizer, mostre firmeza
em suas ações.
Organize
o local de maneira a isolar o acidente para que não seja agregado maior perigo
do que o já existente. Se houver outras pessoas no local, peça sua ajuda
passando tarefas simples, evitando ficar discutindo o mérito ou culpa do
acidente.
Garanta
a sinalização no local
Enquanto
uma pessoa liga para o serviço de emergência , outra deve sinalizar o local
apropriadamente, para minimizar a possibilidade de outros acidentes em função
da diminuição da velocidade de fluxo. Manter o trânsito fluindo também
permitirá que os veículos de socorro possam chegar rapidamente ao local. Quanto
mais cedo chegar socorro profissional às vítimas do acidente, melhor , portanto
solicite um o mais rápido possível. É prudente manter em fácil acesso numeros
de telefone como o de bombeiros, SAMU e polícia rodoviária.
Seja
conciso na chamada ao socorro oferecendo a maior gama possível de informações
pertinentes – gravidade aparente do acidente, envolvendo que tipo de veículos,
número de vítimas, tipo de ferimentos aparentes, se tem vazamento de liquidos, incêndio,
etc. O atendente terá assim melhores condições para enviar a equipe apropriada
para o local, otimizando os recursos.
A
sinalização deve levar em conta a velocidade permitida no local, fazendo com
que seja mais distante quanto maior ela for. Se a velocidade for de 40 km/h,
por exemplo, a sinalização deve acontecer no mínimo a 40 passos largos do
acidente – se for de 100 km/h, 100 passos, e assim por diante. Em caso de
alguma forma de obstrução visual, como uma curva cega por exemplo, interrompa a
contagem e retome após o obstáculo, permitindo que aquele que se aproxima seja
informado a tempo das condições à sua frente.
O
que é possível fazer para auxiliar as vítimas?
Se
você não é um profissional de resgate, deve-se limitar a fazer o mínimo necessário
com a vítima até a chegada do socorro. Infelizmente, vão existir algumas
situações onde o socorro, mesmo chegando rapidamente com equipamentos e
profissionais treinados, pouco poderá fazer pelo acidentado. Mesmo nestas
situações difíceis, não se espera que você faça algo para o qual não esteja
preparado ou treinado – mas existem outras formas de ajuda que contribuirão
para que a situação não se agrave.
Após
garantir a segurança do local do acidente, inicie o contato com a vítima ou
vítimas. Informe à ela o que você está fazendo para ajudá- la – ouça e aceite
suas queixas e a sua expressão de ansiedade, respondendo às perguntas com calma
e de forma apaziguadora. Não minta e não dê informações que causem impacto ou
estimulem a discussão sobre a culpa no acidente. Seja solidário e permaneça
junto à pessoa em um local onde ela possa lhe ver, sem que isso coloque em
risco a sua própria segurança. Alguns acidentados podem tornar-se agressivos,
não permitindo acesso ou auxílio. Tente a ajuda de familiares ou conhecidos
dela, se houver algum, mas se a situação lhe colocar de alguma forma em risco,
afaste-se.
Impedindo
movimentos da cabeça
É
procedimento importante e fácil de ser aplicado, mesmo em vítimas de
atropelamento. Segure a cabeça da vítima pressionando a região das orelhas,
impedindo a movimentação da cabeça. Se a pessoa estiver de bruços ou de lado,
procure alguém treinado para avaliar se ela necessita ser virada e de como
fazê-lo, antes do socorro chegar. Em geral ela só deverá ser virada se não estiver
respirando. Se estiver de bruços e respirando, sustente a cabeça nesta posição
e aguarde o socorro chegar.
Vítima
inconsciente
Ao
tentar manter contato, faça perguntas simples e diretas como:
–
Você está bem? Qual é seu nome? O que aconteceu? Você sabe onde está?
O
objetivo dessas perguntas é apenas identificar a consciência da vítima. Ela
poderá responder bem e naturalmente suas perguntas – o que é um bom sinal – mas
poderá estar confusa ou mesmo nada responder. Se ela não apresentar nenhuma
resposta demonstrando estar inconsciente ou desmaiada, mesmo depois de você
chamá-la em voz alta, ligue novamente para o serviço de socorro, complemente as
informações e siga as orientações que receber. Além disso, indague entre as
pessoas que estão no local, se existe alguém treinado e preparado para atuar
nesta situação. Em um acidente, a movimentação de vítima inconsciente e mesmo a
identificação de uma parada respiratória ou cardíaca, exige treinamento prático
específico.
Controlando
uma hemorragia externa
São
diversas as técnicas para conter uma hemorragia externa. Algumas são simples e
outras complexas devendo ser aplicadas por profissionais. A mais simples, que
qualquer pessoa pode realizar, é a compressão do ferimento, diretamente sobre
ele, com uma gaze ou pano limpo. Você poderá necessitar de luvas para sua
proteção, para não se contaminar. Naturalmente você deverá cuidar só das lesões
facilmente visíveis que continuam sangrando e daquelas que podem ser cuidadas
sem a movimentação da vítima.
Só
faça isso se você se sentir seguro. Jamais tente aplicar torniquete !
O
que não se deve fazer
Não
movimente – não faça torniquetes – não tire o capacete de um motociclista. Não
dê nada para beber.
Mesmo
na tentativa de ajudar, com a melhor das intenções, movimentar a vítima pode
agravar uma fratura no braço, na perna ou na coluna – ainda pode causar
paralisia e até morte, pois há risco de lesão na medula, que é o canal de
comunicação do nosso cérebro com o resto do corpo, controlando inclusive a
respiração.
A
mobilidade de membros fraturados pode causar a lesão de artérias, nervos e
outras estruturas pois o osso fraturado é muito cortante. Nunca se deve tentar
retirar o capacete de um motociclista, se você não tem treinamento para isso,
pois as eventuais lesões na coluna podem ser extremamente graves – sem contar
as lesões no crânio, principalmente se a pessoa estiver inconsciente. Aguarde o
socorro especializado!
Não
se deve dar nada para nenhuma vítima de acidente, pois além do risco de se
aspirar o vomito, se ocorrer, estamos prejudicando ações com procedimentos
cirúrgicos, onde para anestesia, exige- se jejum, inclusive de água.
Tenha
em mente que mesmo uma pessoa treinada em primeiros socorros, deve aguardar o
profissional que atenderá o acidentado. Como viu aqui, ainda assim é
possível executar ações para minimizar as consequências desse acidente. Mesmo
que ali esteja seu melhor amigo ou um familiar, mantenha a calma e não faça
nada de ímpeto, pois muitas vezes, você poderá ser o agente agravante de uma
lesão que, talvez, não fosse assim tão grave como parecia.
Respeite
seus limites como piloto – não dirija sob efeito de drogas, álcool, ou qualquer
substância que possa diminuir sua capacidade reacional. Preserve sua vida e a
dos outros.
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